quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

LAGOS – PASSADO – PRESENTE - Culturas de urbanismo e mobilidade



Cultura, Língua, Comunicação UFCD: CLC_6 Culturas de urbanismo e mobilidade

Ficha de trabalho nº 1

Formadora: Helena Lourenço
Formandos: Francisco Dias e Daniel Marques
 
LAGOS – PASSADO – PRESENTE


Lagos – Cidade dos Descobrimentos

            No início do século XX, Lagos dispunha de equipamentos de abastecimento ao público de produtos alimentares, como o peixe, a carne, as frutas e hortaliças. Na foto representada abaixo (Ilustração 1), pode-se ver ao fundo dois edifícios municipais (sinalizados pelas setas azuis), os quais eram, respetivamente, o primeiro (com arcos – Edificado em 1850), o mercado da fruta e hortaliças (Ilustração 2), o qual funcionou como mercado de peixe até 1904, altura em que ficou construído o novo edifício (Ilustração 3) e que viria a substituir este. O segundo, o novo mercado do peixe, entrou em funcionamento após 1904 (Ilustração 3).
         Estes equipamentos, na altura, eram os únicos locais de eleição para o abastecimento público de produtos alimentares, pois a cidade não dispunha de quaisquer outros estabelecimentos com idêntica atividade. Ficavam ambos situados na Rua Portas de Portugal, apesar de a foto presente representar também a Praça Gil Eanes.

 
Ilustração 1: Praça “Gil Eanes”e Rua “Portas de Portugal”

Ilustração 2: Antigo Mercado da Fruta (Foto de 1924) - Rua Portas de Portugal

 
Ilustração 3: Antigo Mercado de Peixe (Foto de 1924) - Rua Portas de Portugal

            Depois de 1924, o Mercado das Frutas e Hortaliças passou para um prédio também ele situado na Rua Portas de Portugal (Ilustração 4), onde outrora funcionara uma fábrica de conservas (Fábrica Portugal até 1915), o qual sofrera obras profundas, em virtude de um grande incêndio. O antigo espaço onde funcionou este mercado (Ilustração 2), entretanto foi demolido.


Ilustração 4: Novo Mercado da Fruta (após 1924) - Rua Portas de Portugal
 
           O Mercado de Peixe funcionou até à sua demolição em 1958/9 (Ilustração 3), para dar lugar à construção da Avenida dos Descobrimentos. Após 1958/9, o Mercado da Rua Porta de Portugal (Ilustração 4), no qual se vendiam apenas as Frutas e Hortaliças até a esta data, passou também nele a se poder comercializar o pescado (Ilustração 5 e 6 nos anos de 1998).
 

Ilustração 5: Vendedor de Frutas e Hortaliças em 1998

 
Ilustração 6: Vendedor de Peixe em 1998

 No inicio do ano de 2001 e meados de 2004, o edifício que albergava o Mercado Municipal para venda de peixe, frutas e hortaliças desde 1958/9, sofreu obras em virtude do desgasto pelos cerca de 77 anos de uso, o qual, apresentava notória obsolescência na organização e funcionalidade do seu interior, razão pela qual, a Câmara Municipal de Lagos, decidiu recuperá-lo e após a conclusão das obras que incluíram profundas remodelações estruturais e reorganização dos espaços de venda, o Mercado Municipal da Avenida foi reinaugurado em Junho de 2004 (Ilustração 7 e 8).
Ilustração 7: Obras de Remodelação do Mercado da Avenida (2001/2004)  
Ilustração 8: Mercado da Avenida dia da Reinauguração em Junho de 2004

Após um investimento de cerca de três milhões de euros, Lagos ganhou um mercado moderno e funcional, respeitando ao mesmo tempo o seu passado e traça, onde no dia 05 de Julho de 2004, reabriu as portas ao público, depois de ter sido alvo de obras de renovação e ampliação, onde foram igualmente integrados um painel de azulejos do artista Xana e um outro painel evocativo da poetisa Sofia de Mello Breyner Andresen Caminho da manhã (Ilustrações 9, 10 e 11).

(Ilustração 9) 
     (Ilustração 10)  
 (Ilustração 11) 
Ilustrações 9, 10 e 11: Mercado da Avenida - Abertura Oficial em 05/07/2004

A Câmara Municipal de Lagos pretendeu, na altura, face ao investimento envolvido nas obras de requalificação, que o Mercado da Avenida fosse um ponto de encontro e convívio, contribuindo para a animação do Centro Histórico e para o reforço da qualidade de vida dos seus moradores.
Numa descrição genérica, e muito sintética, podemos referenciar que no Mercado Municipal da Avenida, no rés-do-chão funcionam 33 bancas de peixe e marisco, bem como quatro talhos, no primeiro andar 16 bancas de fruta e hortaliça e seis lojas com produtos variados.
No segundo andar, a par de um requintado equipamento de restauração, uma enorme varanda panorâmica que permite fruir a magnífica paisagem do rio, da Doca Pesca e da baía de Lagos. Deste ponto acede-se facilmente ao edifício adjacente, o Centro Ciência Viva de Lagos.
Um elevador panorâmico e uma ampla escadaria exuberantemente decorada emolduram este renovado espaço comercial.
O Mercado Municipal da Avenida, apesar de estar implantado na Rua Portas de Portugal, fica situado em plena Avenida dos Descobrimentos, uma das mais belas avenidas do Algarve.

“Caminho da manhã”
Vais pela estrada que é de terra amarela e quase sem nenhuma sombra. As cigarras cantarão o silêncio de bronze. À tua direita irá primeiro um muro caiado que desenha a curva da estrada. Depois encontrarás as figueiras transparentes e enroladas; mas os seus ramos não dão nenhuma sombra. E assim irás sempre em frente com a pesada mão do Sol pousada nos teus ombros, mas conduzida por uma luz levíssima e fresca. Até chegares às muralhas antigas da cidade que estão em ruínas. Passa debaixo da porta e vai pelas pequenas ruas estreitas, direitas e brancas, até encontrares em frente do mar uma grande praça quadrada e clara que tem no centro uma estátua. Segue entre as casas e o mar até ao mercado que fica depois de uma alta parede amarela. Aí deves parar e olhar um instante para o largo pois ali o visível se vê até ao fim. E olha bem o branco, o puro branco, o branco da cal onde a luz cai a direito. Também ali entre a cidade e a água não encontrarás nenhuma sombra; abriga-te por isso no sopro corrido e fresco do mar. Entra no mercado e vira à tua direita e ao terceiro homem que encontrares em frente da terceira banca de pedra compra peixes. Os peixes são azuis e brilhantes e escuros com malhas pretas. E o homem há-de pedir-te que vejas como as suas guelras são encarnadas e que vejas bem como o seu azul é profundo e como eles cheiram realmente, realmente a mar. Depois verás peixes pretos e vermelhos e cor-de-rosa e cor de prata. E verás os polvos cor de pedra e as conchas, os búzios e as espadas do mar. E a luz se tornará líquida e o próprio ar salgado e um caranguejo irá correndo sobre uma mesa de pedra. À tua direita então verás uma escada: sobe depressa mas sem tocar no velho cego que desce devagar. E ao cimo da escada está uma mulher de meia idade com rugas finas e leves na cara. E tem ao pescoço uma medalha de ouro com o retrato do filho que morreu. Pede-lhe que te dê um ramo de louro, um ramo de orégãos, um ramo de salsa e um ramo de hortelã. Mais adiante compra figos pretos: mas os figos não são pretos: mas azuis e dentro são cor-de-rosa e de todos eles corre uma lágrima de mel. Depois vai de vendedor em vendedor e enche os teus cestos de frutos, hortaliças, ervas, orvalhos e limões. Depois desce a escada, sai do mercado e caminha para o centro da cidade. Agora aí verás que ao longo das paredes nasceu uma serpente de sombra azul, estreita e comprida. Caminha rente às casas. Num dos teus ombros pousará a mão da sombra, no outro a mão do Sol. Caminha até encontrares uma igreja alta e quadrada.
Lá dentro ficarás ajoelhada na penumbra olhando o branco das paredes e o brilho azul dos azulejos. Aí escutarás o silêncio. Aí se levantará como um canto o teu amor pelas coisas visíveis que é a tua oração em frente do grande Deus invisível.

Sophia de Mello Breyner Andresen, in Livro Sexto, 1962

Bibliografia:


Francisco Dias e Daniel Marques















 


  















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