Cultura, Língua, Comunicação UFCD: CLC_6 Culturas de urbanismo e mobilidade
Ficha de
trabalho nº 1
Formadora: Helena Lourenço
Formandos: Francisco Dias
e Daniel Marques
LAGOS – PASSADO – PRESENTE
Lagos
– Cidade dos Descobrimentos
No início do século XX, Lagos
dispunha de equipamentos de abastecimento ao público de produtos alimentares,
como o peixe, a carne, as frutas e hortaliças. Na foto representada abaixo (Ilustração 1), pode-se ver ao fundo dois edifícios municipais
(sinalizados pelas setas azuis), os quais eram, respetivamente, o primeiro (com
arcos – Edificado em 1850), o mercado da fruta e hortaliças (Ilustração 2), o qual funcionou como mercado de peixe até
1904, altura em que ficou construído o novo edifício (Ilustração 3)
e que viria a substituir este. O segundo, o novo mercado do peixe, entrou em
funcionamento após 1904 (Ilustração 3).
Estes equipamentos, na altura, eram os únicos locais de eleição para o abastecimento público de produtos alimentares, pois a cidade não dispunha de quaisquer outros estabelecimentos com idêntica atividade. Ficavam ambos situados na Rua Portas de Portugal, apesar de a foto presente representar também a Praça Gil Eanes.
Estes equipamentos, na altura, eram os únicos locais de eleição para o abastecimento público de produtos alimentares, pois a cidade não dispunha de quaisquer outros estabelecimentos com idêntica atividade. Ficavam ambos situados na Rua Portas de Portugal, apesar de a foto presente representar também a Praça Gil Eanes.
Ilustração 1: Praça “Gil Eanes”e Rua
“Portas de Portugal”
Ilustração 2: Antigo Mercado da Fruta
(Foto de 1924) - Rua Portas de Portugal
Ilustração 3: Antigo Mercado de Peixe
(Foto de 1924) - Rua Portas de Portugal
Depois de 1924, o
Mercado das Frutas e Hortaliças passou para um prédio também ele situado na
Rua Portas de Portugal (Ilustração 4), onde
outrora funcionara uma fábrica de conservas (Fábrica Portugal até 1915), o qual
sofrera obras profundas, em virtude de um grande incêndio. O antigo espaço onde
funcionou este mercado (Ilustração 2), entretanto
foi demolido.
Ilustração 4: Novo Mercado da Fruta
(após 1924) - Rua Portas de Portugal
O Mercado de
Peixe funcionou até à sua demolição em 1958/9 (Ilustração 3),
para dar lugar à construção da Avenida dos Descobrimentos. Após 1958/9, o
Mercado da Rua Porta de Portugal (Ilustração 4), no qual se
vendiam apenas as Frutas e Hortaliças até a esta data, passou também nele a se
poder comercializar o pescado (Ilustração 5 e 6 nos anos de 1998).
Ilustração
5: Vendedor de Frutas e Hortaliças em 1998
Ilustração 6: Vendedor de Peixe em 1998
No inicio do ano de 2001 e meados de 2004, o edifício que albergava o
Mercado Municipal para venda de peixe, frutas e hortaliças desde 1958/9, sofreu
obras em virtude do desgasto
pelos cerca de 77 anos de uso, o qual, apresentava notória obsolescência na
organização e funcionalidade do seu interior, razão pela qual, a Câmara
Municipal de Lagos, decidiu recuperá-lo e após a conclusão das obras que
incluíram profundas remodelações estruturais e reorganização dos espaços de
venda, o Mercado Municipal da Avenida foi reinaugurado em Junho de 2004 (Ilustração 7 e 8).
Ilustração
7: Obras de Remodelação do Mercado da Avenida (2001/2004)
Ilustração 8: Mercado da Avenida dia da
Reinauguração em Junho de 2004
Após um
investimento de cerca de três milhões de euros, Lagos ganhou um mercado moderno
e funcional, respeitando ao mesmo tempo o seu passado e traça, onde no dia 05
de Julho de 2004, reabriu as portas ao público, depois de ter sido alvo de
obras de renovação e ampliação, onde foram igualmente integrados um painel de
azulejos do artista Xana e um outro painel
evocativo da poetisa Sofia de Mello Breyner Andresen “Caminho da
manhã” (Ilustrações 9, 10 e 11).
(Ilustração 9)
(Ilustração 10)
(Ilustração 11)
Ilustrações 9, 10 e 11: Mercado da
Avenida - Abertura Oficial em 05/07/2004
A Câmara
Municipal de Lagos pretendeu, na altura, face ao investimento envolvido nas
obras de requalificação, que o Mercado da Avenida fosse um ponto de encontro e
convívio, contribuindo para a animação do Centro Histórico e para o reforço da
qualidade de vida dos seus moradores.
Numa
descrição genérica, e muito sintética, podemos referenciar que no Mercado
Municipal da Avenida, no rés-do-chão funcionam 33 bancas de peixe e marisco,
bem como quatro talhos, no primeiro andar 16 bancas de fruta e hortaliça e
seis lojas com produtos variados.
No segundo
andar, a par de um requintado equipamento de restauração, uma enorme varanda
panorâmica que permite fruir a magnífica paisagem do rio, da Doca Pesca e da
baía de Lagos. Deste ponto acede-se facilmente ao edifício adjacente, o Centro
Ciência Viva de Lagos.
Um elevador
panorâmico e uma ampla escadaria exuberantemente decorada emolduram este
renovado espaço comercial.
O Mercado
Municipal da Avenida, apesar de estar implantado na Rua Portas de Portugal, fica
situado em plena Avenida dos Descobrimentos, uma das mais belas avenidas do
Algarve.
“Caminho da
manhã”
Vais pela estrada que é de
terra amarela e quase sem nenhuma sombra. As cigarras cantarão o silêncio de bronze.
À tua direita irá primeiro um muro caiado que desenha a curva da estrada.
Depois encontrarás as figueiras transparentes e enroladas; mas os seus ramos
não dão nenhuma sombra. E assim irás sempre em frente com a pesada mão do Sol
pousada nos teus ombros, mas conduzida por uma luz levíssima e fresca. Até
chegares às muralhas antigas da cidade que estão em ruínas. Passa debaixo da
porta e vai pelas pequenas ruas estreitas, direitas e brancas, até encontrares
em frente do mar uma grande praça quadrada e clara que tem no centro uma
estátua. Segue entre as casas e o mar até ao mercado que fica depois de uma
alta parede amarela. Aí deves parar e olhar um instante para o largo pois ali o
visível se vê até ao fim. E olha bem o branco, o puro branco, o branco da cal
onde a luz cai a direito. Também ali entre a cidade e a água não encontrarás
nenhuma sombra; abriga-te por isso no sopro corrido e fresco do mar. Entra no
mercado e vira à tua direita e ao terceiro homem que encontrares em frente da
terceira banca de pedra compra peixes. Os peixes são azuis e brilhantes e
escuros com malhas pretas. E o homem há-de pedir-te que vejas como as suas
guelras são encarnadas e que vejas bem como o seu azul é profundo e como eles
cheiram realmente, realmente a mar. Depois verás peixes pretos e vermelhos e
cor-de-rosa e cor de prata. E verás os polvos cor de pedra e as conchas, os
búzios e as espadas do mar. E a luz se tornará líquida e o próprio ar salgado e
um caranguejo irá correndo sobre uma mesa de pedra. À tua direita então verás
uma escada: sobe depressa mas sem tocar no velho cego que desce devagar. E ao
cimo da escada está uma mulher de meia idade com rugas finas e leves na cara. E
tem ao pescoço uma medalha de ouro com o retrato do filho que morreu. Pede-lhe
que te dê um ramo de louro, um ramo de orégãos, um ramo de salsa e um ramo de
hortelã. Mais adiante compra figos pretos: mas os figos não são pretos: mas
azuis e dentro são cor-de-rosa e de todos eles corre uma lágrima de mel. Depois
vai de vendedor em vendedor e enche os teus cestos de frutos, hortaliças,
ervas, orvalhos e limões. Depois desce a escada, sai do mercado e caminha para
o centro da cidade. Agora aí verás que ao longo das paredes nasceu uma serpente
de sombra azul, estreita e comprida. Caminha rente às casas. Num dos teus
ombros pousará a mão da sombra, no outro a mão do Sol. Caminha até encontrares
uma igreja alta e quadrada.
Lá dentro ficarás ajoelhada na
penumbra olhando o branco das paredes e o brilho azul dos azulejos. Aí
escutarás o silêncio. Aí se levantará como um canto o teu amor pelas coisas
visíveis que é a tua oração em frente do grande Deus invisível.
Sophia de Mello Breyner Andresen, in Livro Sexto, 1962
Bibliografia:
Francisco Dias
e Daniel Marques
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